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ENCICLOPÉDIA DE AUTORES

Marcelo Leitão

(1679-1755)

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N. 1679; A. 1696; O.S. 1714; U.V.?; M. 1755

Marcelo Leitão nasceu em Alcoutim, Bispado de Faro e Diocese do Algarve, a 6 de Junho de 1679. Ingressou no noviciado da Companhia de Jesus em Évora, a 2 de Setembro de 1696. Veio a professar a 15 de Agosto de 1714 (ARSI, Lus. 47, 48 e 49). Após ter concluído a sua formação académica, esteve nos colégios de Faro e de Portalegre, onde ensinou Humanidades, Retórica, Matemática e Teologia Moral. Foi ainda reitor do colégio de Vila Nova de Portimão.

A partir de 1729, é mencionado como Procurador-Geral do Japão, em Lisboa, na procuratura instalada no colégio de Santo Antão-o-Novo (ANTT, Jesuítas, Mç. 97, N.º 288). Doze anos mais tarde, em 1741, assume também a função de Procurador-Geral da China, além da de Procurador-Geral da Índia (ANTT, Jesuítas, Mç. 97, N.º 308).

No cumprimento das suas actividades, observamos Leitão a desempenhar funções diplomáticas e agenciadoras de bens sumptuários (mobiliário, porcelanas, têxteis e pratas), como aqueles que os padres de Pequim enviam por Goa, em 1740, para a rainha D. Maria Ana de Áustria (1683-1754), mulher de D. João V (1689–1750), e para o então infante D. José (1714–1777) (ANTT, Jesuítas, Mç. 98, N.º 26). Em Lisboa recebe e reencaminha tais produtos para esses e outros membros de uma elite endinheirada - tais como o arquitecto jesuíta florentino Francisco Folleri (1699–c.1767) ou o embaixador Alexandre Metelo de Sousa Meneses (1687–1766) (ANTT, Jesuítas, Mç. 98, N.º 37). No sentido inverso, é também responsável pelo envio de peças para o imperador Qianlong (1711–1799), como imagens de cera (com iconografia que não a de matriz católica) (ANTT, Jesuítas, Mç. 98, N.º 68). Em 1751, sendo-lhe comunicado que os padres franceses tinham oferecido a Qianlong vinte e duas figuras de vidro e esmalte, representando animais em vulto, vinte e quatro ramalhetes feitos de canotilho com pedrinhas e pérolas, uma caixa de esmalte e ouro, além de um cravo, envida esforços para preparar um presente que estivesse à altura e se diferenciasse do da concorrência. Comissiona, assim, dois passarinhos, feitos de canotilho, encomendados em Macau, e despacha peças portuguesas de vidro pintadas, estampas coloridas (ANTT, Jesuítas, Mç. 98, N.º 66).

Leitão procura ainda satisfazer outros pedidos dos missionários da China, pelo que aprova as verbas necessárias para a aquisição de propriedades na missão ou trata do envio de matemáticos, astrónomos, cirurgiões e artistas necessários em Pequim. Assinale-se o seu papel na designação para aquela missão do padre José de Espinha (1722–1788), que se viria a destacar ao serviço de Qianlong, enquanto cartógrafo e fundidor de canhões; mas também na busca de um pintor capaz de suceder na corte imperial Qing ao irmão Giuseppe Castiglione (1688–1766) (ANTT, Jesuítas, Mç. 98, N.º 37). Providencia ainda missionários para a Casa de São José de Macau, bem como professores de diversas matérias; além de diligenciar junto de D. João V a favor de Fr. Francisco de Santa Rosa de Viterbo (?–1750), bispo de Nanquim, no ano da morte deste eclesiástico (ANTT, Jesuítas, Mç. 98, N.º 37).

A sua actividade enquanto Procurador-Geral incluiu ainda averiguar se havia apropriações indevidas de objectos chineses e portugueses, quando estes aportavam em Goa, mediante as apelações do Padre Luís de Sequeira (1693–1763) (ANTT, Jesuítas, Mç. 98, N.º 40). A prática de desviar conteúdos, que apontada como uma característica da natureza dos portugueses, é evidenciada através da quantificação de barris de vinho que já chegavam vazios a Pequim, e de que o Padre Leitão era, em última instância, o responsável.

É ainda durante o desempenho do cargo de Procurador-Geral da Missão da China, em 1748, que vai assumir funções mediadoras junto da Santa Sé, nomeadamente aquando da estada do embaixador Manuel Pereira de Sampaio (1692–1750) em Roma (ANTT, Cartório Jesuítico, Mç. 98, N.º 134). Em 1752 a atenção de Marcelo Leitão vai para a embaixada de Francisco Pacheco de Sampaio (c. 1711–1767) ao imperador. Nessa ocasião, é aconselhado por padres alemães e franceses, que receavam a chegada do embaixador, a transmitir-lhe que não se deslocasse a Pequim. Todavia, e embora desconhecendo a acção de Marcelo Leitão nesse sentido, a embaixada acaba por se concretizar.

Por volta de 1751, sabe-se que estava a preparar o padre José Rosado (1714–1797) para ser seu sucessor no cargo de procurador. Opunha-se-lhe o padre Luís de Sequeira, a pretexto de Rosado ser demasiado jovem para o exercício de tais funções (ANTT, Cartório Jesuítico, Mç. 98, N.º 40). No ano seguinte, é o responsável pela Companhia de Jesus ter conseguido a confirmação da isenção régia de impostos sobre a venda de bens, o que promovia a circulação de produtos entre as várias casas jesuítas da Europa, América, Ilhas Atlânticas e Ásia.

Leitão ocupou-se, simultaneamente, da gestão dos bens que D. João Tomás Henriques de Cabrera (1646–1705), Almirante de Castela, deixou à Província Portuguesa, função ligada, por via de determinação testamentária, ao cargo de Procurador-Geral das Missões.

Gravemente doente já em 1754, Marcelo Leitão morreu no ano seguinte, no colégio de Santo Antão-o-Novo de Lisboa, por ocasião do terramoto de 1 de Novembro.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

GOLVERS, N. (2011), p. 19; RIVARA, J. H. da Cunha (1869), p. 300; RODRIGUES, Francisco (1925), p. 63; ROSA, T. M. R. da Fonseca (2008), pp. 246-251; SOMMERVOGEL, C. (1890-1960), Col. 1670; SOUSA, J. S. Oliveira e (1949), p. 20; VALE, A. M. Martins do (2002), p. 411.

 

A entrada deve ser citada da seguinte forma: Maria João Pereira Coutinho, "Marcelo Leitão (1679-1755)", in Res Sinicae, Enciclopédia de Autores, Arnaldo do Espírito Santo, Cristina Costa Gomes e Isabel Murta Pina (Coord.). ISBN: 978-972-9376-56-6. 

URL: "https://www.ressinicae.letras.ulisboa.pt/marcelo-leitao-1680-1755". Última revisão: 15.01.2021.

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