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 ENCICLOPÉDIA DE AUTORES

 

 

André Pereira

(1689-1743)

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N. 1689 ou 1690; A. 1707; O.S. c. 1716; U.V. 1724; M. 1743

Filho de pais ingleses, que lhe deram o nome de "Jackson", ao que parece, André Pereira nasceu no Porto, a 4 de Fevereiro de 1689 ou de 1690. Entrou no noviciado da Companhia, em Lisboa, a 17 de Junho ou de Julho de 1707. Após os habituais dois anos de noviciado, ingressou, em 1709, na Universidade de Évora (Lus. 47, fl.129v. etc.), informação importante para conhecermos a sua estada nesta universidade, pois as outras existentes são ou demasiado anteriores (1705) ou muito tardias (1717, ou seja, já após a sua partida para a China). Em Lus. 47 (fl. 33v), encontramos o seu nome entre os ‘scholastici’, sendo assinalado como estudante do segundo ano do curso de filosofia. A partir daqui podemos inferir que os quatro anos deste curso decorreram a partir de 1709-1710 (primeiro ano); continuando em 1710-1711 (segundo ano); 1711-1712 (terceiro terceiro), até 1712-1713 (quarto ano). No final do seu quarto ano, era ‘magister artium’. Em 1713-1714, estudou um ano de matemática em Évora (A. Franco; BNP, Ms. 750); e, em 1714-1715, esteve durante um ano em Coimbra. Pereira embarcou em Lisboa, com destino à Ásia, a 14 de Março de 1716.

Chegado a Macau na segunda metade de 1716 ou no início de 1717, permaneceu nos anos seguintes no eixo Macau-Cantão (Guangzhou). Nos primeiros quatro anos (aproximadamente entre Agosto de 1716 e Agosto de 1719), dedicou-se aos seus estudos teológicos, a que se seguiu a ordenação. Simultaneamente, terá dado início ao estudo de chinês e adoptado o nome Xu Maode. Em Agosto de 1719, observou um eclipse lunar em Cantão, registado mais tarde por Maximilian Hell (cf. infra). No entanto, as suas principais actividades em Cantão foram as de um missionário comum. Provavelmente, foi ainda reitor do colégio (A. Viegas). Terá sido nessa mesma cidade que fez a profissão dos últimos votos, a 17 de Junho de 1724. No termo do Verão deste último ano, alcançou Pequim. Decorridos três anos, em 1727, foi nomeado assessor (Qintianjianjianfu) de Kögler († 1746) no Departamento Astronómico (Qintianjian). Essa foi a sua categoria no Qintianjian até ao final da sua vida. Foi por duas vezes vice-provincial: em 1729–1732 e em 1735–1741; foi ‘Rector’ do colégio português de Nantang, durante um período indeterminado. Morreu em Pequim a 2 de Dezembro de 1743. As suas cerimónias fúnebres oficiais foram testemunhadas e relatadas por Johann Walter, a 2 de Dezembro de 1744. Preservou-se a sua lápide, cuja inscrição veio a ser publicada por E. Malatesta, no século XX.

Actividades científicas de Pereira em Pequim

Analisada a biografia de André Pereira, torna-se evidente que as suas actividades académicas decorreram no campo da astronomia. Foi seguramente com base nestas experiências (e em outras similares?) que em 1724 foi convocado a Pequim. Três anos mais tarde, foi nomeado Qintianjianjianfu, colaborador directo (“assessor”) da chefia oficial do Departamento, o jesuíta alemão Ignatius Kögler (1680-1746). Um dos acontecimentos centrais no primeiro período da estada de Pereira em Pequim foi a "revolução" astronómica de 1722: segundo a percepção de Pereira, correspondeu à introdução de um novo e abrangente compêndio astronómico em 1722(5), designado Lixiang Kaocheng. Este foi preparado sob as "ordens" do falecido imperador Kangxi, com a intenção de contrariar a forte influência ocidental no cálculo do calendário anual: os envolvidos foram um certo “Ho” (isto é, He Guozong), que promoveu um “Mey” (isto é, Mei Juecheng, 1681 – 1763). Face aos erros detectados após o eclipse de 15 de Julho de 1730, esta obra foi enviada aos jesuítas do Qintianjian, para ser revista. Assim, Kögler e Pereira começaram por corrigir o factor eclipse do eclipse solar de 15 de Julho de 1730 de 8’10’’ para 9’22”. Em 1737, acrescentaram dois apêndices ao (Yuzhi) Lixiang kaocheng, nomeadamente as tabelas chamadas Ri Chan Biaoe Yue Li Biao (a última das quais derivada da de Nicasius Grammatici). Entre 1737 e 1742, compilaram o (Yuzhi) Lixiang kaochen ghoubian [“Suplemento para uma investigação abrangente da astronomia do calendário” (“composto imperialmente”, ou seja, Yuzhi)]. No quadro cosmológico ticoniano (que foi mantido, apesar do conhecimento de Grammatici etc.) foram introduzidas várias novidades, nomeadamente a equação de Kepler e a teoria lunar de Newton. No entanto, é difícil apontar com precisão o contributo de A. Pereira neste trabalho predominantemente "colectivo", publicado pelo Director do Departamento, I. Kögler.

Embora Pereira fosse visto como "assistente" de Kögler durante as observações, o seu papel não parece ter sido meramente secundário, ou receptivo: quer devido à sua observação em Cantão, no ano de 1717, quer porque parece ter sido ele quem sugeriu a Kögler que apresentasse as tabelas de Nicasius Grammatici – conforme o que nos é relatado por A. Gaubil.

Em 1727, Pereira esteve ainda envolvido noutro projecto colectivo, desta vez no campo da cartografia, em colaboração com Antoine Gaubil e Joseph De Mailla. Ordenado pelo "13º Régulo", este projecto tinha por objectivo cartografar a região entre o Sahalien Oula (isto é, o rio Amur) e o mar do Norte e do Leste. Isto foi registado por Gaubil na sua correspondência com Etienne Souciet, em Paris. Gaubil, já em Outubro de 1727, referia a satisfação do ‘Régulo’ com os resultados, apesar das suas próprias frustrações sobre a reduzida qualidade do trabalho: de facto, os mapas não foram realizados através de medições no terreno, mas antes com recurso a relatórios regionais ou descrições (“mémoires”) e além de qualquer aplicação de teorias ou práticas ocidentais coevas. De qualquer modo, também aqui não é claro qual foi o contributo de Pereira.

 

A sua rede de correspondência com a Europa

Estas actividades científicas foram apoiadas por uma correspondência ampla, mas dispersa: com a Academia Imperialis, 1732-1742 (São Petersburgo), por exemplo com o médico português António Nunes Ribeiro Sanches, 1736 - 1743 (ibid.); sempre juntamente com I. Kögler (e Karl Slavoçek, S.J.) com Theophil Siegfried Bayer (1694 – 1738); (juntamente com I. Kögler e K. Slavicek) com Joseph-Nicolas Delisle (1688 – 1768, que, entre 1726 e 1747, viveu em São Petersburgo); com Londres (Jacob de Castro Sarmento, 1692-1762); com Lisboa; Paris e Roma.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

DEHERGNE, J. (1973), 197-198; Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira; MIRANDA (2000);

PFISTER (1932-1934), 652-654; RODRIGUES (1925), 23-54; 83-113; SHI (2008), 36-81; SOMMERVOGEL (1890), vol. VI, col. 498; VIEGAS, A. (1920-1921), Revista de história, 9, 257–270.

 

A entrada deve ser citada da seguinte forma: Noël Golvers, "André Pereira (1689-1743)", in Res Sinicae, Enciclopédia de Autores, Arnaldo do Espírito Santo, Cristina Costa Gomes e Isabel Murta Pina (Coord.). ISBN: 978-972-9376-56-6. URL: " https://www.ressinicae.letras.ulisboa.pt/andre-pereira-1689-1743".

Última revisão: 15.01.2021.

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