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 ENCICLOPÉDIA DE AUTORES

Domingos Pinheiro

(1688-1748)

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N. 1688; A. 1704; O.S. ?; U.V. 1722; M. 1748

Curriculum

 

Nascido a 21 de Março de 1688, em Loures, Domingos Pinheiro ingressou no noviciado da Companhia de Jesus a 9 de Novembro de 1704 (JS 134, fl.435r), aos 16 anos. O seu biénio de noviciado terá decorrido entre 1704 e 1706. Depois, entrou na Universidade jesuíta de Évora: em 1711 (Lus., 47, fl.129v) é mencionado na categoria de 'scholastici', como já tendo concluído os estudos de filosofia. Isto implica que os seus quatro anos de estudos de filosofia tenham decorrido entre os anos lectivos de 1707-1708 e de 1710-1711. Tal como André Pereira, também Pinheiro acompanhou um curso "especial" de matemática, de dois anos (JS 134, fl.435). Este curso terá sido organizado nos anos lectivos que se seguiram aos seus estudos filosóficos: em 1711-1712 (com Manuel de Campos como seu professor) e 1712-1713. Em 1713, Pinheiro enviou a sua tese ao Geral Tamburini, que o elogiou em carta de 17 de Junho de 1713. A partir de 1714, foi professor (magister) de humanidades e retórica, sempre em Évora. A partir de determinado momento, que se desconhece com exactidão, começou em Évora com o ensino da matemática, o que se prolongou por um total de cinco anos, até deixar Portugal, em 1724-1725. Daqui se deduz que o ensino da matemática terá tido início por volta de 1719-1720. Em 1721, em Évora, presidiu à discussão das teses de matemática dos jesuítas Jacinto da Costa e António Nunes.

No mesmo ano de 1721, mudou-se para Lisboa, onde a 2 de Fevereiro de 1722 fez os seus votos. Esteve envolvido no ensino da matemática na Aula da Esfera do colégio de Santo Antão, como professor de currículo. Nenhum dos seus cursos terá sobrevivido. Nesta função, foi também "convidado", em 1724, a assistir à observação do eclipse lunar de 1 de Novembro desse ano, com Giovanni Battista Carbone, Domenico Capacci e o Coronel Manuel da Maia.

Por fim, Pinheiro - que nunca se candidatou à missão da China - foi agregado à companhia do embaixador Alexandre Metelo de Sousa e Meneses (1687-1766), como matemático profissional. Parece ter sido na fase preparatória desta jornada que redigiu o manuscrito do Compéndio da historia de como varias pessoas de familia Imperial Tartaro Sinica abraçaram a Religiam Christam, do qual se conhece apenas um exemplar (https://purl.pt/31576). Embarcaram em Lisboa em 1725 (W 1688).

Actividades na China

A embaixada - e Pinheiro - chegou a Macau a 26 de Agosto de 1726, e a Pequim no início de Julho de 1727. Pinheiro adoptou o nome chinês de Chen Shance.

Apesar da sua formação matemática e da docência, bem como do seu lugar no comitiva de Metelo, em Pequim, Pinheiro nunca esteve ligado ao Departamento Astronómico, tendo sido desde o princípio designado para a residência de Dongtang, da qual foi reitor entre 1728 e 1748. Neste período, tinham sido atribuídos alguns serviços "especiais" à Dongtang, o primeiro dos quais – desde cerca de 1690 – o de pharmacopolium (farmácia) dos jesuítas portugueses. Além disso, desde a década de 1720, também a Procuratura da vice-província da China fora transferida de Macau para a Dongtang, em Pequim. Vários documentos, alguns de natureza financeira, no códice Jap.Sin. 34 (ARSI) são testemunhos deste período, assim como um conjunto de doze cartas que se encontram nos arquivos da antiga Congregatio de Propaganda Fide- arquivo de Cantão, actualmente em Roma.

Durante estes dois períodos, Pinheiro foi também vice-provincial da China, entre 1732 e 1735 e entre 1741 e 1744.

Além destas funções ao nível da gestão e da administração, no que respeita às suas outras actividades em Pequim, apenas dispomos de informação incompleta. Florian Bahr refere-se a vários textos (em chinês) compostos por Pinheiro sobre teologia e lei (direito canónico) em benefício dos missionários, dos quais não sobreviveu nenhum. Ainda a 12 de Novembro de 1739, Antoine Gaubil confirma os seus dotes teológicos, ao pedir um exemplar da obra de Étienne Agard de Champs (Dechamps), S.J. (1613-1701), De Haeresi Janseniana ab Apostolica Sede Merito Proscripta Libri Tres (…), adquirido por Étienne Souciet (Paris: G. Martin, 1728, 2 tomos in 1 vol., in-fol.).

A 15 de Maio de 1737, Pinheiro, enquanto superior da residência de Dongtang (designada “Novum Collegium”), esteve envolvido na recolha de livros chineses em nome da academia russa de São Petersburgo. Sirva de exemplo um Kangxi, Kangxi Zidian, as explicações dos clássicos chineses e edições dos jesuítas em chinês, por Matteo Ricci e Giulio Aleni, num total de 64 ‘volumina’ ou juan. Foi muito provavelmente devido a estes serviços que foi agraciado com uma nomeação como membro (honorário?) desta mesma Academia.

Como superior da residência portuguesa de Dongtang, Pinheiro usufruiu de avultados fundos enviados pelo rei português para aquela casa (e também para a de Nantang). Assim, sentia-se responsável perante o rei português. Por isso, quando os artistas jesuítas Giuseppe Castiglione e Ferdinando Moggi revelaram o seu plano para levar a cabo um livro de desenhos da residência de Dongtang, Pinheiro persuadiu-os a enviarem os originais ao rei português.

Durante o seu segundo mandato enquanto vice-provincial, esteve também envolvido, "a distância", na transcrição sistemática dos arquivos jesuítas, um projecto gigantesco organizado em meados do século XVIII no colégio jesuíta da Madre de Deus, em Macau, pelo irmão João Álvares, a pedido da Academia Portuguesa de História. Este tema é discutido na sua correspondência com o referido irmão (JA 49-V-21 e 49-V-29).

Morreu em Pequim, de onde parece nunca ter saído, no dia 16 de Junho de 1748, aos 60 anos. Foi enterrado no cemitério de Zhalan, onde faltava a sua lápide, que foi recentemente encontrada, de acordo com uma informação oral de Pequim que nos foi transmitida.

Parte da sua correspondência sobreviveu em Der Neue Welt-Bott (1725-1761), bem como nos arquivos de Roma (CPF e ARSI) e de Évora (Biblioteca Municipal).

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

DEHERGNE, J. (1973), 204; Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, VOL. 21, 742; PFISTER (1932-1934), 696-697; RODRIGUES (1925), 55-58, 113-118; SOMMERVOGEL (1890), vol. VI, col. 820.

 

A entrada deve ser citada da seguinte forma: Noël Golvers, "Domingos Pinheiro (1688-1748)", in Res Sinicae, Enciclopédia de Autores, Arnaldo do Espírito Santo, Cristina Costa Gomes e Isabel Murta Pina (Coord.). ISBN: 978-972-9376-56-6. URL: "https://www.ressinicae.letras.ulisboa.pt/domingos-pinheiro-1688-1748". Última revisão: 15.01.2021.

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