Procuradores Portugueses na China
FRANCISCO DE CORDES (1689-1768)
OUTROS DOCUMENTOS
Procuradores Portugueses na China
FRANCISCO DE CORDES (1689-1768)
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ENCICLOPÉDIA DE AUTORES
José Rosado
(1714-1797)
N. 1714; A. 1729; O.S. 1747; U.V.?; M. 1797
José Rosado nasceu no Vimieiro, arquidiocese de Évora, em 1714. A 26 de Outubro de 1729, com cerca de 15 anos, ingressou no noviciado da Companhia de Jesus em Évora (ARSI, Lus. 41, fls. 74-75). Provavelmente, foi nesta mesma cidade que realizou toda a sua formação académica. Em 1747, por volta dos 33 anos, estava no colégio de Vila Nova de Portimão, onde professou a 15 de Agosto (ARSI, Lus. 16, fl. 288). Em 1749, já passara ao colégio de São Francisco Xavier, em Setúbal, no qual foi professor de Humanidades, Retórica e Teologia Moral (ARSI, Lus. 49, fl. 43v).
Em 1751, parece ocupar-se da gestão de bens de D. João Tomás Henriques de Cabrera (1646–1705), Almirante de Castela, sucedendo ao padre Marcelo Leitão (1679 –1755) (AHTC, JI, Mç. 89). Essa tarefa ter-lhe-á permitido uma actuação no campo da aquisição de bens móveis e de raiz - assim reforçando as competências necessárias à ascensão ao cargo de Procurador-Geral das missões ultramarinas. Assinale-se, neste âmbito, a compra de um terreno pertencente ao conde de Tarouca, na Cotovia, para a construção do Colégio Almirantino ou das Missões, sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição.
Após o terramoto de Novembro de 1755 e na sequência da morte de Marcelo Leitão, que o preparara para seu sucessor, Rosado é nomeado Procurador-Geral da Vice-Província da China, em Lisboa (ARSI, Jap.Sin. 98, fl. 44v). Fica a residir no hospício de São Francisco de Borja, na Cotovia, para onde transitara a Procuratura, na companhia de outros procuradores das missões ultramarinas. Por essa altura, D. José I (1750–1777), concedeu-lhe Carta de Padrão e de Tença de Juro e Herdade perpétua, rendimento habitualmente atribuído a quem tinha estado, ou previa estar, nos espaços ultramarinos.
Pela escassa documentação que dele sobreviveu, podemos constatar o papel central que tiveram na sua actividade a recepção de bens sumptuários e a resposta às necessidades dos missionários da China. Veja-se, neste contexto, a gestão das inúmeras encomendas efectuadas por si, por outros membros da Companhia de Jesus e ainda por terceiros (AHTC, JI, Mç. 21, N.º 83, fls. 111 e ss.). Sirvam de exemplo os caixotes com artefactos que estiveram à sua guarda, destinados a Pedro da Mota e Silva, um habitual comprador de objectos de Macau. Além disso, foi responsável por armazéns localizados nas imediações da igreja de São João Nepomuceno, em Lisboa, onde eram colocadas as mercadorias asiáticas, oriundas da Casa da Índia e destinadas aos residentes do hospício de São Francisco de Borja e outros. Foi, por outro lado, responsável pela encomenda de obras de pedraria em Portugal para equipar igrejas da China, nomeadamente lavatórios e pias (AHTC, JI, Mç. 21, N.º 83, fls. 111 e ss.). Terá estado também, como os seus antecessores, envolvido no envio de roupetas, alimentos, tabaco, chocolate, drogas, livros, obras de arte sacra e alfaias litúrgicas, além de relógios, jóias, vidros pintados e outros objectos para serem oferecidos ao imperador e outros altos dignitários da corte imperial Qing.
Devido à supressão da Companhia de Jesus, Rosado tornou-se o último Procurador-Geral da Vice-Província da China. Aprisionado nos cárceres de São Julião da Barra, em 1759, juntamente com outros procuradores das missões ultramarinas, aí permaneceu até 1767 (ARSI, Bras. Maragn. 28, fl. 41). No arrolamento de bens feito nos meses subsequentes a 1759, foram encontradas no seu cubículo peças que nos revelam o seu gosto por produtos e peças de manufactura asiática, tais como frascos de vidro com chá, bules e peças de mobiliário. Confirma ainda essa apetência e proximidade aos bens chineses, um tesouro de “cacos de loiça chinesa", que o desembargador Manuel Inácio de Moura encontrou por trás de uma parede falsa do cubículo de Rosado. Naquele mesmo ano de 1767, é deportado para Urbania (Itália) (ARSI, Lus. 40b). Embora se desconheça a data exacta do regresso a Portugal, foi na sua terra natal que acabou por falecer, aos 82 anos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COUTINHO, M. J. Pereira (2019), pp. 103-122; DEHERGNE, J. (1973), p. 231; PFISTER, L. (1932), p. 986; RODRIGUES, P. F. (1950), p. 186; RUSSO, M., TRIGUEIROS, A. J. L. (2013), pp. 647-648; VALE, A. M. Martins do (2002), p. 596; WICKI, J. (1967), Entrada N.º 2118.
A entrada deve ser citada da seguinte forma: Maria João Pereira Coutinho, "José Rosado (1714-1797)", in Res Sinicae, Enciclopédia de Autores, Arnaldo do Espírito Santo, Cristina Costa Gomes e Isabel Murta Pina (Coord.). ISBN: 978-972-9376-56-6. URL: "https://www.ressinicae.letras.ulisboa.pt/jose-rosado-1714-1797". Última revisão: 15.01.2021.